O crescimento do Longo Curso
08/04/2016Nem tudo está mal no ‘reino’ dos caminhos de ferro nacionais. É muito frequente ouvirmos críticas Pavlovianas aos comboios portugueses em geral: velhos, pouco pontuais, lentos, sem atenção ao cliente, e por aí fora. Na maioria dos casos, talvez com exceção da lentidão (é uma batalha que não dou por perdida), parecem ser caixas de ressonância de quem há muito não tem ou não quer ter contacto com os comboios e, por isso, não constatou ainda a sua evolução.
O crescimento do serviço de Longo Curso tem sido uma das marcas mais entusiasmantes da realidade ferroviária nacional nos últimos anos. Este ano, mesmo sem novas linhas, novos comboios ou novos itinerários, os comboios de Longo Curso voltam a subir na casa dos dois dígitos em passageiros transportados e, apesar do aumento enorme de tarifas promocionais, com as receitas a subirem acima do próprio ganho de passageiros. Esta semana, a CP ensaiou um comboio Pendular na linha de Guimarães, e anunciou que o novo serviço se inicia a 01 de Maio.
A duplicação da oferta em Guimarães (de 1 para 2 comboios diários) é um pequeno acrescento mas representa bem a atitude da companhia na atualidade. Não podendo contar com mais investimento para mais comboios nem com mais e melhores linhas para servir outras partes do território (algumas delas, com escala perfeitamente suficiente para oferta deste género), a CP vira-se para os seus ativos: o parque de material que tem, as linhas onde pode circular e os mercados que pode servir. A estratégia comercial, já o disse muita vez, conseguiu inverter de forma impressionante uma certa letargia que durava há décadas. A empresa já não é mais vista pelos seus clientes como um bloco granítico imóvel mas como uma empresa que pretende ir ao seu encontro.
Outros atributos foram entretanto melhorados. A pontualidade e o serviço ao cliente melhorou claramente. Tudo isto permite à CP arriscar um pouco em mercados menos prováveis, como Guimarães. Duvido que haja uma expectativa de acolher ali um mercado fabuloso como se tem revelado Braga, mas havendo os meios, sendo os custos de operação baixos e podendo com isso construir uma oferta de Longo Curso mais completa e coesa nesta cidade, porque não? E é precisamente a capacidade de colocar esta pergunta a si própria que faz desta CP uma empresa tão diferente da que conhecemos nas últimas décadas.
João Cunha