25.000V, uma conquista mundial em que participámos

25.000V, uma conquista mundial em que participámos

05/11/2016 0 Por Joao Cunha

Celebrou-se a 03 de Novembro de 2016 os 50 anos da eletrificação integral da Linha do Norte, data fundamental na história ferroviária portuguesa e última etapa de uma história maior da qual a nossa rede fez parte.

Quando a 03 de Novembro de 1966 a locomotiva 2570 entrou na estação de Campanhã, orgulhosa do seu design totalmente à base de chapa inox canelada (uma estreia mundial no género, promovida pela Sorefame), encerrava-se um longo capítulo de mais de dez anos que foram necessários para colocar catenárias nos 336 quilómetros da linha entre Lisboa e Porto e cujo primeiro troço eletrificado o havia sido precisamente 10 anos antes, em 1956.

A história dos 25.000V a nível mundial está muito ligada à vontade de simplificar sistemas de eletrificação e de dotar os caminhos de ferro com sistemas mais poderosos de fornecimento da energia de tração, resolvendo insuficiente potência de instalações em corrente contínua de “baixa” tensão ou a complexidade técnica de eletrificações trifásicas muito ensaiadas por todo o globo.

O monofásico permitiu uma simplificação dramática das instalações elétricas de tração desde logo por utilizar o mesmo tipo de corrente que outras indústrias e facilitando o abaixamento de tensão das linhas de transporte de média e alta tensão para os 25.000V que se tornaram gradualmente num standard mundial, como se pode ver pela crescente penetração deste tipo de eletrificações em países historicamente agarrados a outros tipos de eletrificação ferroviária.

Se o berço foi a Alemanha e, histórias do pós-guerra, coube à França limar os últimos detalhes e fazer a transição para as grandes operações ferroviárias, coube a Portugal uma distinta honra e ousadia, a que não será alheia a ajuda recebida para arriscarmos: sermos o primeiro país a escolher este sistema de eletrificação para uma linha principal de tráfegos mistos e de grande importância no tráfego rápido de passageiros. Até então, França havia escolhido pequenas linhas regionais ou artérias quase só vocacionadas para mercadorias para fazer a prova de conceito.

A ousadia nacional contribuiu também, de certa forma, para demonstrar a viabilidade deste tipo de eletrificação. A IP divulgou no seu site uma pequena nota sobre esta efeméride, com alguns detalhes técnicos interessantes, e que pode ser vista aqui.

Depois da lenta eletrificação da linha do Norte, as catenárias 25.000V já abrangem hoje em dia toda a linha do Sul, Beira Alta e Beira Baixa (nos troços em serviço), a linha de Sines, linha de Évora, Ramal de Braga, Ramal de Guimarães e ramal de Alfarelos, bem como partes importantes das linhas do Alentejo, Oeste, Algarve, Minho e Douro.

50 anos depois, Portugal planeia uma eletrificação quase total da sua rede utilizando um sistema que ajudou a viabilizar. Às vezes temos de encontrar na história o golpe de asa e de ambição que nos permita acreditar que a rede ferroviária portuguesa não está condenada ao marasmo. Como há 50 anos, nada nos impede de inovar.