Desenvolvimento ferroviário no sul do país

Desenvolvimento ferroviário no sul do país

31/10/2017 0 Por Joao Cunha

Termina hoje a consulta pública sobre a nova linha Évora Norte – Elvas – Caia, que permitirá corrigir uma das mais impressionantes lacunas da nossa rede ferroviária. Será o maior investimento ferroviário em Portugal desde a primeira metade do século XX, com o nascimento de 78 kms de nova via apta a 250 km/h.

Que oportunidades abre e que caminhos indica para o desenvolvimento ferroviário a Sul do país?

O objetivo fundamental é ligar Sines com Espanha através de uma linha de altas prestações – ou seja, permitindo elevadas cargas por comboio e uso da tração elétrica. Fica por ver em que consistirá a renovação da linha de Sines (que substitui a construção de uma linha nova), pois a linha como está apresenta incomportáveis restrições de carga.

Mas há muito para ver para lá deste objetivo. Quer na dimensão regional como nacional a nova linha abre horizontes de estruturação da rede ferroviária a Sul que importa perceber.

Com Badajoz a cerca de duas horas de Lisboa através da ponte 25 de Abril, abre-se também a porta para recolocar Portalegre no mapa do país e dando-lhe finalmente uma acessibilidade ferroviária digna de uma capital de distrito. As forças da região devem empenhar-se na eletrificação da linha do Leste entre Elvas e Portalegre e conseguir uma estação mais próxima da cidade. A meta das 2h10 desde logo é alcançável.

Com a conclusão da LAV Badajoz – Madrid, Lisboa e Madrid ficarão separadas por cerca de 4 horas, um tempo que começa a ser competitivo.

São dados que indicam também a importância da construção da Terceira Travessia do Tejo, que além do imenso tráfego suburbano e regional da grande Lisboa permitirá cortar desde logo 30 minutos (pelo menos!) ao tempo de trajecto entre Lisboa, Évora, Badajoz e Madrid. Além disso permitirá aliviar a saturada ligação via 25 de Abril, que além do mais apresenta restrições brutais para o seu atravessamento por comboios de mercadorias. Lisboa ficará a uma hora de Beja, a 1h40 de Portalegre.

Com a TTT será depois relevante aproveitar o potencial do traçado a realizar. Apto primeiro a 250 km/h, contará com traçado em planta e catenária para 300 km/h. Elevando a velocidade em todo o trajeto e contando com o novo acesso a Lisboa, Madrid e Lisboa ficarão separadas por apenas três horas – o que começa a ser um tempo claramente capaz de alterar de forma brutal a quota modal entre estas duas cidades. E tudo isto sem construir uma LAV pura de ponta a ponta.

Esta linha pode também ser uma excelente oportunidade para desencravar Beja. Assim seja resolvido o seu acesso a Lisboa, condição que lhe trará também a possibilidade de se reenquadrar no espaço ibérico e aproveitar esta ligação de excelência a Espanha, podendo mesmo piscar o olho a Sines. Como defendi aqui.