O Ferrovias 2030 pode ser o Ferrovias 2020
25/01/2018Já escrevi nos mais diversos lugares muito a propósito do processo de definição e da definição efetivamente realizada no PETI3+, rebatizado por este governo em Ferrovias 2020 para a sua componente ferroviária.
Dos 2,7 mil milhões de Euros destinados inicialmente à Ferrovia sobram hoje, se somado o que ainda está anunciado, pouco mais de 1,5 mil milhões. As linhas / corredores a intervir são os mesmos mas objetivos fundamentais ficaram pelo caminho para executar este corte brutal no investimento planeado:
- Sem correções de traçado, curvas ou rampas na linha do Minho
- Sem nova linha da Beira Alta, sem correções de curvas ou rampas na linha da Beira Alta
- Sem triplicação de via entre Alverca e Castanheira, sem aumento de capacidade entre Ovar e Gaia, sem aumentos de velocidade no resto da linha do Norte
- Sem a nova linha de Sines até Grândola, sem correção de rampas na linha original
- Sem aumento de capacidade na linha do Sul nem entre Poceirão e Bombel, na linha do Alentejo
- Sem correções de traçado no Oeste ou no Algarve
- Sem correções de traçado entre Covilhã e Guarda e sem substituição das pontes, como sempre esteve previsto
Tudo isto permite intervir praticamente no mesmo número de quilómetros, o que fica certamente bem na fotografia, mas não resolve praticamente nenhum estrangulamento de capacidade ou de competitividade do modo ferroviário, seja na vertente de passageiros como de mercadorias.
Entretanto a execução orçamental mostra que 2017 teve um nível de execução de investimento muito mais baixo que 2016, que já tinha sido o mais baixo em muitos anos. 2017 foi mesmo o mais baixo desde que há registos – incluindo anos de intervenção externa. Aos quase 1000 milhões de investimento que ficaram por executar, boa parte é, claro está, do Ferrovias 2020.
Entre objetivos cortados para facilitar o que agora será mera cosmética e planos que mesmo assim não saem do papel, em virtude da discussão que se inicia sobre as obras públicas no horizonte 2030 apetece-me dizer: se o plano para as Ferrovias for o que devia ter sido executado até 2020, já não será mau.
A única coisa que há para discutir para 2030 é o nível de propaganda que se deseja realizar. Sendo que dificilmente se vai superar o nível de execução nesse particular do atual quadro de “investimentos”.
Anos perdidos? É muito mais que isso.