O potencial regresso dos passageiros a Sines
20/07/2018Tendo em conta o artigo anterior sobre o que realmente está em causa no acesso ferroviário a Sines, impõe-se também uma reflexão sobre o que pode resultar para Sines se, além de beneficiar os tráfegos de mercadorias com a nova linha, se olhar para a oportunidade única de recolocar Sines no mapa das ligações de passageiros da rede ferroviária, após a sua eliminação em 1990.
Sines e Santiago do Cacém são hoje dois concelhos muito mais vibrantes, com uma forte indústria dos mais elevados níveis de vida de todo o país. A ligação ferroviária existente não é competitiva mas construindo a nova linha, alternativa ideal para o tráfego de mercadorias que prioritariamente deve servir, abre-se todo um novo mundo para Sines.
Com a nova linha, a estação da Raquete de Sines, situada nas imediações da Petrogal, passa a ficar a 143 kms de Entrecampos (Lisboa), contra 178 pela linha actual. Na atualidade, um comboio pendular apto a 220 km/h realizaria esse percurso em 1h40 na melhor das hipóteses mas, com a nova linha, fá-lo-ia em apenas 1h15.
Da Raquete para o interior de Sines há duas hipóteses:
Opção 1 – Repor o canal ferroviário em direção à antiga estação, de excelente alinhamento (tem apenas duas curvas apertadas)
Opção 2 – Utilizar a ligação ao porto de Sines e aproveitar a linha construída para levar os vagões à manutenção que existe até ao porto de recreio, linha sem uso, a renovar, vedar e eletrificar.
Na opção 1, trata-se de limpar o canal ferroviário, automatizar passagens de nível, assentar via, eletrificá-la e repor um layout ferroviário na antiga estação – pelos valores indicativos da Infraestruturas de Portugal, cerca de 16,5M€.
Na opção 2, trata-se apenas de construir uma estação junto ao porto de recreio e modernizar a via existente, por cerca de 6M€.
Opção | Tempo de viagem Lisboa – Sines | Distância (km) | Investimento | Tempo de viagem sem linha nova |
1 | 1h21min | 152 | 16,5 M€ | 1h46min |
2 | 1h28min | 155,2 | 6 M€ | 1h53min |
O aproveitamento para passageiros pode ainda ser potenciado por Santiago do Cacém. A nova linha passaria a cerca de 2 km do centro, o que seria ainda assim uma localização interessante para uma estação. É certo que a velha estação na linha original é central, mas com mais de 90 minutos até Lisboa não é competitiva. Com a nova linha, Santiago ficaria a cerca de uma hora de Lisboa.
O melhor tempo por estrada em autocarro é de 2h30 até Sines ou 2h05 até Santiago do Cacém e em automóvel particular 1h45 até Sines ou 1h40 até Santiago do Cacém.
Os tempos que o comboio passaria a ser capaz de realizar colocam-no como alternativa muito competitiva e, em trajecto 100% eletrificado, a preços muito mais competitivos também do que por via rodoviária, em trajeto com portagens.
Se um dia a ponte Chelas – Barreiro vier a ser realizada, Lisboa e Sines poderão ficar a menos de uma hora de distância, um tempo bombástico.
Porque não fazem as câmaras locais pressão para poderem receber o serviço ferroviário?