Carruagens sorefame, viagem ao passado

Carruagens sorefame, viagem ao passado

28/01/2019 2 Por pedroandre

Janeiro de 2019, viagem a bordo do IC 574 entre Lisboa e a cidade de Faro, carruagem sorefame de 1ª classe + bar !
De volta ao século passado no que toca a viagens ferroviárias.

Por opção a CP trocou o ultimo comboio que sai de Lisboa em direcção ao sul, passando do Alfa Pendular para o Intercidades. Não critico a opção porque isto permite à empresa ferroviária ajustar a oferta à procura, acrescentando ou retirando carruagens à composição consoante as necessidades em termos do número de passageiros.

Critico sim, e bastante, a utilização das carruagens sorefame neste serviço. Este tipo de carruagens estavam bem era num qualquer serviço regional, para não dizer que já há muito deviam estar encostadas definitivamente.

Bem sei que a CP luta diariamente e arduamente para fazer face a uma enorme falta de material, mas isto já não são carruagens dignas de um serviço de longo curso, ainda para mais um serviço que por norma tem elevadas taxas de ocupação.

Vivemos na era da tecnologia, no entanto durante toda a viagem entre Lisboa e Faro, a ligação à internet foi inexistente. Por um lado a situação de não existir internet é vantajosa já que se poupa a bateria dos diversos aparelhos, sejam smarthones ou computadores portáteis, já que as tomadas para a ligação eléctrica continuam a ser casuais, sendo que não estão acessíveis a todos os lugares.

A “mesa” instalada no banco da frente que se abre sobre o colo do passageiro é a imagem dos anos 90, com um suporte de copos que impede que se possa abrir convenientemente um portátil ou ler um livro de grandes dimensões. Isto para não falar da altura da mesma em relação ao chão a que está instalada, não permitindo que um passageiro com maior altura tenha o conforto necessário para usufruir da mesma. Se por um lado as pernas quase não cabem sob a mesma, por outro obriga a que se tenha de estar constantemente dobrado sobre a dita “mesa”.

É um facto que estou a falar de carruagens construídas entre 1967 e 1968, que foram alvo de uma modernização profunda entre 1993 e 1994, tendo sido mais tarde aptas a circular com maior velocidade. Já lá vão 25 anos desde a última grande intervenção !!!!

Viajar a velocidades mais elevadas é sentir a carruagem a ranger a cada canto, o estado da linha também é responsável em parte por este problema, os barulhos são constantes e incomodativos, sente se por vezes, e em demasia na minha opinião, o “esticão” que as locomotivas dão para atingir patamares de velocidades superiores.
O sistema de aquecimento / arrefecimento caducou no final do século passado e logicamente não é aquele que deveria ser o admissível nos dias de hoje.
Nem vale a pena referir o estado dos bancos ou da carpete que cobre o chão das carruagens que há muito pediram a substituição, ou referir a falta de iluminação em locais tão críticos como as instalações sanitárias.

O governo, tal como faz habitualmente na ferrovia, abandonou por completo o longo curso, e engane – se quem pensa que a modernização dos restantes comboios alfa pendular vai resolver alguma das questões.
A maioria dos comboios do longo curso é feita com recurso a composições de locomotiva e carruagens, e grande parte dessas carruagens são sorefames.
A idade das carruagens não perdoa, tal como não deve perdoar a exigência dos passageiros e acima de tudo a exigência do conselho de administração a CP, que tem como objectivo pressionar o governo até ao tutano em busca de melhores soluções.

Numa altura em que o governo se gaba de ter as contas do país em excelente condições, foi inadmissível que não se tenha avançado para um contrato de aquisição de material circulante para o longo curso. Quando os novos comboios regionais chegarem, algures em 2023, a frota sorefame irá contar com 56 anos de existência e com quase 30 anos pós modernização.
Talvez numa das quartas-feiras “loucas” das idas aos mercados em busca de financiamento, o governo se lembre de alocar alguns milhões tão necessários para colmatar esta situação da CP.

Como nota final, resta-me dar os parabéns aos funcionários da EMEF e da CP por conseguirem continuar a colocar a circular sobre os carris com segurança, estas carruagens “museológicas”.

Pedro André