Algumas notas sobre o Elevador da Glória

Algumas notas sobre o Elevador da Glória

6 Setembro, 2025 0 Por Joao Cunha

Não sei praticamente nada sobre este meio de transporte, para lá da natural curiosidade que desperta, mas puxando de algum conhecimento de coisas parecidas, há alguns comentários e algumas perguntas que são possíveis:

  • O ciclo de manutenção estaria provavelmente desfasado do regime de utilização do equipamento – o conceito de ciclo de manutenção é precisamente o de prever eventos com uma frequência (temporal ou por utilização) que adiram ao regime de uso
  • Ainda não se percebe se a rotura do cabo foi uma causa ou uma consequência, mas tão pouco me parece que a causa mais importante seja a que despoletou o acidente
  • A causa mais relevante será o da eficácia (existência?) dos sistemas de protecção adicionais, que deviam existir quando algo fundamental falha. O elevador parecia ter um freio de emergência mas ou não actuou ou não foi eficaz
  • A cobertura noticiosa – com pontuais excepções – focou-se mais na exploração da tragédia do que na sua explicação. Felizmente a imprensa inglesa percebeu a pertinência disso mesmo
  • O GPIAAF foi para o terreno com o seu director e um investigador, apenas no dia seguinte precisamente por falta de meios. Quando se batem recordes do número de funcionários públicos é sempre impressionante ver a penúria dos quadros técnicos do Estado que atingem sobretudo funções regulatórias e de soberania
  • Este acidente deve ser o fim dos regimes de excepção nos regimes regulatórios que dependem do IMT e da autoridade nacional de segurança. Não é a primeira vez que este tema é levantado, pode ser que agora o legislador compreenda o erro (mortal) que em tempos teve. O próprio GPIAAF só está agora a actuar porque após o descarrilamento da Lapa em 2018 lá se introduziram algumas condições sob as quais o gabinete pode intervir
  • Parece-me difícil que venham a ser encontradas não conformidades grosseiras contra os protocolos de manutenção estabelecidos – o problema maior serão mesmo os protocolos, como já acima indiquei, salvo algum tipo de sabotagem ou dano pontual inflingido ao sistema que parece improvável
  • A Carris comunicou como pôde, mas ainda não divulgou informação completa sobre este sistema, como funciona e que sistemas tinha embarcados. Fica a dúvida se não os quer divulgar ou se não os tem. Do lado dos políticos, com pontualíssimas excepções, há pelo menos uma reserva que se saúda
  • Esperemos que desta vez sejam tiradas consequências sérias uma vez conhecidos os relatórios de investigação – já bastou na ferrovia pesada não se terem tirado quaisquer consequências das pesadas conclusões sobre o acidente de Soure. Curiosamente o único político que saltou para a frente com declarações menos próprias foi quem na altura, com factos na mesa, decidiu não agir e portanto protegeu a continuação da situação de insegurança

Aguardemos então o relatório do GPIAAF que, mesmo depauperado de recursos, me deixa totalmente descansado quanto ao trabalho de investigação necessário e em curso.