
Onde param as 3500?
Vai animada a discussão sobre o que fazer com a concessão do Eixo Norte-Sul – a recente mudança de horários e diminuição de lugares oferecidos por hora no troço mais congestionado tem provocado uma quebra acentuada do nível de serviço percebido pelos passageiros do Pragal e Corroios, sobretudo.
O pecado original é fácil de identificar – apesar do sucesso fenomenal do serviço, nunca o âmbito da concessão foi alargado no que toca a material circulante – as mesmas 18 UQE 3500 em serviço de 1999. O modelo de concessão proíbe o concessionário de deter ou comprar material circulante, sendo este da exclusiva responsabilidade do Estado, que o aluga à Fertagus.
A solução estrutural parece óbvia – comprar material para esta concessão. Com prazo de implementação ligeiramente inferior, também se pode alterar a filosofia da concessão, passando para prazos mais alargados e entregando o material circulante ao concessionário, que assim poderá comprá-lo.
No entretanto, discute-se na comunicação social e nas redes a possibilidade da CP entregar à Fertagus algumas unidades 3500 (de entre as 12 que tem), cuja produtividade é muito inferior às da Fertagus apesar de idênticas, ou então até de eliminar a Fertagus e entregar tudo à CP. Ora, umas contas simples, para a disponibilidade às horas de ponta e um total de 30 unidades combinadas das actuais duas empresas:
- Entregando tudo à CP e assumindo a forma como a CP opera a manutenção e disponibilidade da frota (75%), são 22 disponíveis à hora de ponta.
- Entregando tudo à Fertagus e assumindo como a Fertagus opera a manutenção e disponibilidade da frota (94%), são 28 unidades à hora de ponta.
As unidades da CP fazem quase exclusivamente os comboios de Alcântara-Terra e da Azambuja, com 8 rotações, e a Fertagus tem um serviço à base de 17 rotações. Ou seja, uma utilização combinada de 25 unidades, sem grandes folgas nem ganhos a obter por junção da operação. Com a performance da CP, a nova concessão conjunta em torno da série 3500 tem de suprimir serviços pois o esquema de manutenção não tem performance suficiente. No caso de se concentrar tudo na Fertagus, ficam 3 comboios livres para novos serviços – ou para reforçar existentes.
Nada como fazer contas.
Delírios. Bastou a Fertagus ter um breve vislumbre das condições de operação da CP para o “sucesso fenomenal” ruir como um castelo de cartas velhas.
O autor tenta enganar o incauto leitor com os números. Desde que a Fertagus passou a operar com 98% da disponibilidade – não o fazia antes – que tem sido um caos. Avaria atrá de avaria. Em resumo, quando a Fertagus sai da sua “zona de conforte”, a realidade revela-se cruel.
Isso é objectivamente falso, a Fertagus nem opera com 98%, nem nunca operou – mas os 94% referidos já vigoram há muitos anos e com taxa de cumprimento de fazer corar a CP.
Isto não é de todo um tema CP contra Fertagus, mas no limite de quão pouca ambição e exigência existe para com a (e na) CP, o que acaba por desvalorizar a empresa como um todo. Os tempos são outros.