
Lusolav, caldeirada à portuguesa
Primeiro a proposta ao 2º lote (Oiã – Soure) que não respeitava o caderno de encargos – e mudava totalmente a sua filosofia fundamental – e agora uma proposta entregue, adjudicada, e agora rejeitada – o consórcio Lusolav quer alterar questões fundamentais do projecto no troço Porto – Oiã da linha de alta velocidade, desrespeitando o caderno de encargos a que voluntariamente concorreu e que ganhou.
De forma muito mais interessante, trabalhou com arquitectos e com a Câmara de Gaia para apresentar uma proposta que nos traz duas pontes no Douro em vez de uma única, um traçado a uma cota 20 metros mais elevada, com muito mais quilómetros à superfície e sem o túnel previsto inicialmente, e com uma estação no meio do mato em vez de ser em Santo Ovídio, no cruzamento das linhas do Metro do Porto. Como é que a Câmara liderada por um multi-condenado (mas ainda em funções!) avança livremente num processo que a Câmara do Porto desconhecia até hoje não deixa de levantar interrogações.
No fundamental, o proposto tem vários problemas:
- Alteração total do traçado, com muito maior impacto à superfície do que o previsto e sufragado no estudo ambiental
- Uma estação excêntrica em Gaia (esqueçam as afirmações fraudulentas das novas centralidades – red flag visível a milhas), mais longe do sítio onde está a maior escala e os melhores transportes
- Pela localização da nova estação de Gaia, deixa de actuar como “segunda” estação do Porto – em Santo Ovídio torna-se a estação preferencial para o Porto Ocidental e Matosinhos, tal e qual como acontece com as Devesas na linha do Norte – isto vai retirar muita procura a esta estação, que sem dúvida perderá interesse suficientemente para que muitos serviços deixem de lá parar, quando até aqui seria óbvio que todos teriam interesse em servir Gaia
- A necessidade de novos estudos de impacte ambiental, pelas alterações tectónicas do projecto, com todo o atraso que lhe corresponderia
- A eventual necessidade de repetir o concurso publico, dado que as alterações parecem suficientemente grandes para o obrigar ao abrigo do código de contratação pública
Espero que o poder político central, existente e futuro, dê todo o apoio à IP para não ceder a este jogo lamentável, à 25ª hora, que infelizmente exibe que o país pode e deve ter dúvidas sobre a capacidade de execução deste consórcio nacional, invertendo uma boa vontade nacional de ver empresas portuguesas a singrar neste mega projecto.

A IP deve obrigar a Lusolav a implementar aquilo a que voluntariamente concorreu, mantendo assim o projecto superiormente pensado e conceptualizado pela IP, rejeitando estes jogos ridículos que por alguma razão se foram alavancar no poder local em Gaia, ele mesmo com reputação judicialmente sancionada. Se o consórcio quiser tem bom remédio – dizer que não está em condições de avançar. A multa que terá de pagar já ajudará a financiar o aumento de preço que um novo concurso provavelmente terá de prever.
Consórcio português ou caldeirada à portuguesa?
De lembrar que esta já é a segunda sugestão luminosa que a Lusolav faz para a LAV Lisboa-Porto, que também sugeriu que a estação de Coimbra fosse em Taveiro, ao invés de se usar Coimbra B como planeado. A sugestão de um percurso que requer menos túneis, faz-me especular que a única motivação por detrás é a redução dos custos da obra, o que, a ser verdade, revela desonestidade e “chico-espertice”, pois a Lusolav sabia quais eram as condições quando concorreu.