Lusolav, caldeirada à portuguesa

Lusolav, caldeirada à portuguesa

9 Abril, 2025 1 Por Joao Cunha

Primeiro a proposta ao 2º lote (Oiã – Soure) que não respeitava o caderno de encargos – e mudava totalmente a sua filosofia fundamental – e agora uma proposta entregue, adjudicada, e agora rejeitada – o consórcio Lusolav quer alterar questões fundamentais do projecto no troço Porto – Oiã da linha de alta velocidade, desrespeitando o caderno de encargos a que voluntariamente concorreu e que ganhou.

De forma muito mais interessante, trabalhou com arquitectos e com a Câmara de Gaia para apresentar uma proposta que nos traz duas pontes no Douro em vez de uma única, um traçado a uma cota 20 metros mais elevada, com muito mais quilómetros à superfície e sem o túnel previsto inicialmente, e com uma estação no meio do mato em vez de ser em Santo Ovídio, no cruzamento das linhas do Metro do Porto. Como é que a Câmara liderada por um multi-condenado (mas ainda em funções!) avança livremente num processo que a Câmara do Porto desconhecia até hoje não deixa de levantar interrogações.

No fundamental, o proposto tem vários problemas:

  • Alteração total do traçado, com muito maior impacto à superfície do que o previsto e sufragado no estudo ambiental
  • Uma estação excêntrica em Gaia (esqueçam as afirmações fraudulentas das novas centralidades – red flag visível a milhas), mais longe do sítio onde está a maior escala e os melhores transportes
  • Pela localização da nova estação de Gaia, deixa de actuar como “segunda” estação do Porto – em Santo Ovídio torna-se a estação preferencial para o Porto Ocidental e Matosinhos, tal e qual como acontece com as Devesas na linha do Norte – isto vai retirar muita procura a esta estação, que sem dúvida perderá interesse suficientemente para que muitos serviços deixem de lá parar, quando até aqui seria óbvio que todos teriam interesse em servir Gaia
  • A necessidade de novos estudos de impacte ambiental, pelas alterações tectónicas do projecto, com todo o atraso que lhe corresponderia
  • A eventual necessidade de repetir o concurso publico, dado que as alterações parecem suficientemente grandes para o obrigar ao abrigo do código de contratação pública

Espero que o poder político central, existente e futuro, dê todo o apoio à IP para não ceder a este jogo lamentável, à 25ª hora, que infelizmente exibe que o país pode e deve ter dúvidas sobre a capacidade de execução deste consórcio nacional, invertendo uma boa vontade nacional de ver empresas portuguesas a singrar neste mega projecto.

O antes e o depois do projecto, a vermelho novas extensões à superfície, uma alteração brutal do uso do terreno atravessado.

A IP deve obrigar a Lusolav a implementar aquilo a que voluntariamente concorreu, mantendo assim o projecto superiormente pensado e conceptualizado pela IP, rejeitando estes jogos ridículos que por alguma razão se foram alavancar no poder local em Gaia, ele mesmo com reputação judicialmente sancionada. Se o consórcio quiser tem bom remédio – dizer que não está em condições de avançar. A multa que terá de pagar já ajudará a financiar o aumento de preço que um novo concurso provavelmente terá de prever.

Consórcio português ou caldeirada à portuguesa?